As dores de Kanye West.
- Andressa Lopes
- 8 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Ao longo da minha infância, ouvi diversos comentários vexatórios sobre meus traços negróides. Minha boca larga, meu nariz largo, meus olhos amendoados e meu cabelo crespo, tipo 4C, eram alvos frequentes de zombaria. Esses traços, que são parte essencial da minha identidade como mulher preta, foram constantemente desvalorizados. Minha cor de pele, um lindo tom de ébano, também era motivo de piada e preconceito.
Lembro-me de quantas vezes me senti diminuída, de como essas características foram usadas para me ferir e me fazer sentir menos do que os outros. Era como se a sociedade dissesse que minha aparência natural não era bonita, não era desejável. Isso deixou marcas profundas na minha autoestima e na forma como eu via a mim mesma.
Mas, de uns anos para cá, algo curioso aconteceu. As mesmas características que foram ridicularizadas em mim, agora são desejadas por muitas mulheres. Elas pagam rios de dinheiro para injetar Botox e ficar com a boca grande. Fazem penteados que deixam o cabelo mais volumoso e cacheado. Passam horas ao sol ou em câmaras de bronzeamento artificial para escurecer a pele. Essas transformações são celebradas, admiradas e vistas como moda.
No entanto, há uma ironia dolorosa nisso tudo. Essas mulheres querem os traços de uma mulher negra, mas não querem ser mulheres negras. Elas querem a estética sem carregar o peso histórico e social que vem com ela. Não precisam enfrentar o racismo, os olhares de julgamento, as barreiras e as lutas diárias que nós, mulheres negras, enfrentamos.
Essa apropriação da estética negra sem o reconhecimento e o respeito pela nossa identidade é um reflexo do racismo estrutural. É como se a nossa cultura e os nossos traços fossem bons o suficiente para serem consumidos, mas não para serem respeitados. É uma forma de invisibilização e desvalorização da nossa existência.
É importante que reflitamos sobre isso e que, enquanto sociedade, aprendamos a valorizar as pessoas negras pelo que são, e não apenas pelos traços que outros desejam ter. Precisamos combater o racismo em todas as suas formas e reconhecer o valor intrínseco de todas as culturas e identidades.
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